Quando entreguei os chocolatezinhos na mão dos meus dois filhos, Israel e Lissa, eles fizeram a maior festa. Achei que conseguiria causar a mesma boa impressão em minha esposa, a Kelly, mas para meu espanto a reação dela foi me dizer: "Que decadência!"
Levei um susto com a frase dita e com o olhar de censura recebido. O olhar do Dom Juan e o chocolatinho não haviam produzido resultado algum em minha tentativa de agradar minha esposa.Então disparei: "Do que é que você está falando, mulher?"
Ela nem titubeou para responder: "No início, quando começamos a namorar, você me tratava a base de bombons da Kopenhagen. Depois que noivamos você começou a aparecer com caixinhas de bombons sortidos da Nestlè. Quando nos casamos você começou a trazer os “Sonhos de Valsa” da Lacta. E agora “Batom”... Onde é que isto vai parar?"
Caímos na gargalhada com o protesto da Kelly. Mas depois percebi que ela não havia brincado. Comecei a repensar minha dedicação em agradá-la e concluí que ela estava certa. Eu ainda a amava, não achava ter perdido isto, mas as coisas deixaram de ser como no começo.
É claro que uma relação amadurece e nem tudo será sempre como foi no começo. Poderia dizer muitas coisas que melhoraram ao longo dos anos, mas o fato é que neste aspecto específico (expressar valor e carinho) eu havia decaído em relação ao que já havia sido antes. Chocolates populares também são gostosos, mas não são românticos.
Pedi perdão para minha esposa e prometi resgatar aquilo que havia deixado de lado. E claro, tratei de fazer o que devia: voltei a dar bombons da Kopenhagen novamente!
Se isto acontece no nível de relacionamento humano, natural, também acontece no plano espiritual. Da mesma forma que perdemos a paixão e a intensidade de nosso amor por deixar se envolver na rotina de um relacionamento com pessoas que realmente amamamos, também acabamos deixando que a relação com o Senhor sofra desgastes. E o Deus que nos chamou à uma relação de amor total não aceita isto. Ele protesta e pede de volta aquilo que perdemos.
Nas visões do Apocalipse, que o apóstolo João recebeu na Ilha de Patmos, o Senhor lhe confiou algumas mensagens às Igrejas da Ásia. Na carta endereçada à Igreja de Éfeso, o Senhor Jesus protestou acerca da decadência de amor que a Igreja vinha apresentando. Ele protestou a perda do que denominou como o primeiro amor:
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas”. (Apocalipse 2.2-5)